Yin/yang

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Vida

domingo, 12 de junho de 2016

Palavras do mar

Palavras do mar...

Quero compartilhar como, aqui no mar, percebemos mais profundamente que tudo é construção e que nossa realidade é feita de idéias de ilusão.
Em terra tenho a oportunidade de sair de casa e entrar na floresta, lugar habitado por múltiplas inteligências; fora do navio não sobreviveria por quinze minutos. Aqui tudo é idéia, a hora do almoço é onze horas como em todo hospício que se preze e tudo é pensado e organizado.

Imersos em todos os tons de azul, contemplamos a esfera terrestre e a matemática das estrelas nos mostra onde estamos. O vento e a corrente são vetores, números, forças que afetam nossos propulsores, tendências que combatemos para permanecer no mesmo lugar perfurando. Mas o que nos mantém parados neste lugar não é o embate do vento contra as máquinas, é simplesmente uma idéia – Quão sólidas são as idéias do capital!

Da minha humana idade observo este deserto, sinto em minhas mãos o peso daqueles que escravizaram e destruíram civilizações e busco um olhar compassivo para essas almas que somos. Escravos de forças que desconhecemos. Corsários do rei capital, ilusão... Roubamos da terra o seu sangue, não nos contentamos hoje em dia em assaltar continentes, agora, queremos o planeta, quem sabe, em breve, a galáxia!

Hoje eu consegui dormir e o silêncio trouxe palavras, na solidão deste planeta mar, encontrei um sorriso para o padeiro, cumprimentei o moço de convés e chorei junto com o rádio-operador, cujo filho pequenino quebrou a perna na distância, sem o papai para acudir...

Chorei e sorri dos nossos destinos, aprisionados nas idéias, humanos, demasiadamente humanos, vivendo na fronteira, aqui aonde só se sobrevive dentro de uma idéia é possível compreender a vacuidade da existência.
Aqui o vazio das idéias, a falta de sentido desta realidade, à distância e a saudade criam uma desesperada busca por sentidos, uma confusão de valores. 

E porque estão presos e literalmente boiando dentro de uma idéia chamada navio, arrancados do lar, nas fronteiras da falta de sentido, os homens buscam na matéria repor o seu vazio, a dor, que nem sequer admitem que sentem, aqui nem os fracos choram, eles enlouquecem...


Edgard